segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Jung, o sábio do lago

É oportuno lembrar que as teorias psicológicas de Carl Gustav Jung servem não apenas como proposta profissional-terapêutica mas também, e principalmente, como desafio pessoal ao autoconhecimento e à autotranscendência. Por sua notável abrangência, elas atraem profissionais de diversas áreas como psicologia, sociologia e antropologia. Porém atraem principalmente aqueles que são tocados pelo profundo mistério da existência e não resistem ao chamado da jornada interior de reencontro consigo mesmo e de realização pessoal Jung afirma que o inconsciente não é subproduto da consciência nem mero depósito para onde são desviados desejos recalcados e frustrações sexuais, como pensava Freud. Para Jung a consciência individual é que é produto do inconsciente coletivo da humanidade e traz consigo sua própria porção inconsciente, que com seus conteúdos escondidos da luz da consciência, influencia o comportamento do indivíduo. Nos recônditos escuros da psique o inconsciente está sempre atuando e faz com que os sonhos, em sua linguagem simbólica, sejam a representação fiel dos processos psíquicos - nosso apego à racionalidade é que nos afastou da linguagem dos símbolos e não mais a entendemos. Aprendemos com Jung que o sentido da vida é a individuação, espécie de impulso natural da psique rumo à concretização da potencialidade que trazemos em nós (realização da personalidade total). Esse processo inclui um profundo conhecimento de si próprio através da auto-investigação psicológica, fazendo-nos mais cientes de nós mesmos e mais capazes.
o chamado para dentro
Jung deu o nome de psicologia analítica à sua psicologia. Ela difere da psicanálise em muitos pontos mas ele mesmo não descarta a importância dessa para alguns tipos específicos de terapia. A psicologia analítica incentiva o indivíduo a descer os degraus escuros do inconsciente e, uma vez lá, reconhecer o que ele na verdade é e integrar esses conteúdos à consciência, tornando-se um ser mais completo e autoconsciente. Assim como alguém decide fazer um curso de computação para investir em seu futuro, muitos procuram a psicoterapia para... autoconhecer-se, saber de suas potencialidades. Aí está um grande investimento: conhecer-se melhor. Para viver melhorO processo de individuação será sempre algo difícil. Mas ele é a base da existência. Durante muito tempo nós o vivemos apenas superficialmente mas em algum momento a psique chama o ego a voltar-se para dentro, a conhecer-se, a vasculhar no interior as verdades até então buscadas fora. A partir daí novos horizontes se abrem para a realização pessoal. Entretanto, mesmo sob esse impulso natural, o ego, temeroso de confrontar-se com seus medos mais íntimos, pode se recusar a tal interiorização. Nesse caso ele estará impedindo o fluxo natural de sua evolução e a psique, em sua capacidade auto-reguladora, encaminhará a vida a um conflito insustentável, ocasionando doenças, fracassos e até mesmo a morte. O autoconhecimento psicológico nos faz ver que os conflitos da humanidade acontecem primeiro dentro de cada um, sutilmente, para depois se exteriorizar. Para Jung, entendermo-nos com aquilo que não conhecemos de nós mesmos é o grande passo que falta ao Homo sapiens. Só assim deixaremos de ver o inimigo no outro e o reconheceremos onde sempre esteve: dentro de nós mesmos. Esta é uma verdade simples que poucos enxergam. Mas que traz em si a força das maiores revoluções.

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